quinta-feira, 7 de abril de 2011

A gente faz, visse?

Tenho pavor de fazer qualquer coisa ao vivo. Especialmente quando é um evento único, em que o tempo não ajudou a criar um padrão para a sua execução. O jornal de uma emissora de TV vai todos os dias ao ar e, não raro, acontecem falhas. Algumas imperceptíveis ao telespectador. Outras que literalmente fazem a equipe chegar perto de um infarto. Eu, realmente, não tenho sangue frio para essas coisas ao vivo. Mas, vez por outra, aparece alguma história em que termino me metendo, arrumando sarna pra me coçar:

- A gente podia entrar com esta ação ao vivo no jornalismo, não é?

Eu não tenho nada que me meter nessas frias. A minha adrenalina vai lá pra cima, fico num estado de tensão alucinado, mas não deixo de fazer.

Uma dessas situações foi a inauguração do sinal digital da Rede Globo Nordeste no Recife. Autoridades e o mercado publicitário em peso foram convidados para o coquetel de lançamento e o acendimento das luzes da antena. O evento foi no Barrozo, uma casa de recepções na Rua da Aurora, pertinho da antena. O local foi aprovado por Celso Coli, diretor regional da emissora, exatamente por conta da vista privilegiada. Chegamos a ver outros locais, mas o Barrozo, sem dúvida, era o ideal para o que queríamos fazer.

A vista perfeita que se tem da antena da Globo Nordeste
a partir do pátio interno do Barrozo.

Foi então que, conversando com Aldenor Silva, a minha vontade de procurar sarna pra me coçar bateu forte. Falei pra ele:

- E se a gente colocasse as luzes pra dançar?

Aldenor coordena o departamento de TI da Globo Nordeste. É um cara que não rejeita nenhum desafio. Competente demais, o baixinho. Pois, então, Aldenor me explicou que a iluminação à base de LED, em tese, permitia qualquer combinação de cores, mas que marcaria uma reunião com o representante da Philips para eu expor a ideia da gente.

Desde sempre, sou fascinado por cinema. E, entre Capra, Buñuel, Fellini, Pasolini, Bergman, tem também Spielberg, que é um mestre no cinema de diversão. “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” fala de relações humanas e da visita de seres de outras galáxias à Terra. (Não, eu não acredito em OVNI, nem em abdução.) O que sempre me chamou a atenção nesse filme foi o estabelecimento de uma relação entre música e sinais visuais coloridos como forma de comunicação entre terráqueos e alienígenas.  E, no caso da antena, como eu tinha todas as cores à minha disposição, só precisava acrescentar música.



Chamei Bequinho, o nosso maestro, para mostrar a ele algumas cenas de “Contatos Imediatos”. Que essa era a linha de inspiração que tinha me ocorrido para a dança de luzes da antena, mas que era fundamental terminarmos com um acorde do Hino de Pernambuco para dar o nosso toque de orgulho bairrista. Beco fez uma trilha maravilhosa e, aí, sentamos todos juntos: eu, Aldenor, Bequinho e Eduardo Nóbrega, pupilo de Aldenor e fera em tudo que diz respeito a informática. Pegamos a trilha e fomos para a antena na Rua da Aurora. E começamos a fazer experimentos baseados nos quadrantes da antena. Depois de conseguirmos montar 2 segundos, eu vi que jamais terminaríamos a montagem antes da inauguração, além do risco de torcicolo de tanto ficar olhando pra cima. Precisávamos de uma coisa que fosse mais século XXI e não pré-histórico, que era como estávamos trabalhando. 

O representante da Philips não tinha a menor ideia de como resolver, já que São Paulo, Rio e Belo Horizonte não fizeram nada parecido com o que a gente queria. E quando você quer fazer alguma coisa diferente do padrão, sempre tem alguém para dizer que não vai dar certo, que é difícil, perigoso, que pode explodir... É aí que, às vezes, só de pirraça, você pensa:

- Pois é agora que eu vou fazer essa porra!

Eduardo conseguiu um programa que reproduzia a antena graficamente com absoluta precisão. Sentamos na sala de projeção, e eu ia pedindo o conjunto de luzes de acordo com o que eu queria para o acorde musical. Foi uma sensação indescritível ver a animação ao som da música ainda na tela. Uma viagem. Mexíamos nas cores, no tempo de cada conjunto de luzes, mudávamos de ideia, voltávamos. E, a cada sequência, uma vibração. Crianças com um super brinquedo nas mãos. Nós, homens, somos um bicho muito besta. A personificação da leseira. Agora eu estava louco para ver a coisa funcionar de verdade com as luzes da antena. Na vera!

Estávamos a 24 horas da inauguração. Alguns alienígenas de outros estados, convidados para a festa, estavam conhecendo a antena quando demos início ao ensaio. Foi aí que eu ouvi um sotaque que não era de Pernambuco, que não era do Nordeste.

- Pareeaece que elessss esssstão quereeendo sincronizaaar música com as luzessss, mas elesssss devem teeeerrrr um plano bêaê, porque acho muito djjifícil que iêsso funcioooone. (Essa é apenas uma tentativa de reproduzir o sotaque do alienígena)

Vixe, como nordestino é desacreditado. Os alienígenas foram embora, acreditando que não conseguiríamos. Acertamos a sincronização lá pela sétima tentativa. E, depois disso, executamos mais 65 vezes para nada dar errado. É, eu reconheço: eu sou neurótico. Ninguém aguentava mais a trilha. E eu pedindo mais uma vez, mais uma vez. 

Na festa, na noite seguinte, tudo funcionou perfeitamente.  Depois, já relaxado, me aproximei do alienígena que tinha duvidado da capacidade da gente na noite anterior e falei, carregando despudoradamente no sotaque nordestino. Fiz uma salada de sotaques tentando representar os nove estados.

- Ô, bichinho, tu visse como funcionou tudo direitin? Pense nuns cabras competente da moléstia dos cachorro que a gente tem aqui. Se vosmicê quiser, a gente faz um show igualzinho pra vocês lá no seu estado, visse?

O cara me olhou desconfiado, sorriu amarelo, entendeu o recado e deve ter pensado alguma coisa muito impublicável de mim. E, na mesma hora, eu falei pra ele:

- Num duvide, não, que a gente faz!

Você pode assistir ao filme aqui, mas não é nada semelhante à sensação de ter visto a apresentação no local, pertinho da antena. 


7 comentários:

  1. AHHHHH ADOREI o final feliz!! Bairrismos a parte, claro! hahahahahah

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  2. Ivanildo, mas do que ninguém sei da competência sua e equipe, bem com de todos que fazem a rede Globo na figura de meu querido amigo Aldenor. Tive a oportunidade de estar com vocês na criação e sou testemunha viva que nos Recife e PE somos cabras da peste não dúvidem que nos FAZEMOS.

    Tuca

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  3. Lindo,lindo,lindo,lindo!!
    Como gostaria de ter visto ao vivo e em (muuuitas) cores. E também... como gostaria de ser uma mosquinha e ter escutado o diálogo do "alienígena" X Ivanildo... hehehehehehehe.....
    Parabéns a todos!

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  4. CASA, TELEFONE, ET...
    CAPTEI VOSSA MENSAGEM TERRÁQUEO. tio, ficou do BARAAAAAAAAAAAAAAAAIII... KKKKK

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  5. Meus grandes amigos, obrigado por seguirem o blog e comentarem, como sempre o fazem, de forma tão carinhosa.

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  6. Tu com essas idéias maravilhosas, dá um trabalho arretado,rsrsrss realmente ficou muito lindo.
    Parabéns

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  7. Num duvide nãoooo que titio faz. vice!!!

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