sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ela meteu o pau!

Pronto, um textinho sem compromisso.

Tem dois tipos de publicitário: aquele que acha que todos os outros publicitários são fraquinhos demais e aquele que detesta tudo que faz. Eu sou um daqueles que tende sempre a ver defeito em todos os meus próprios trabalhos. Acho sempre que o meu texto poderia ficar melhor, que a edição não ficou legal, que eu poderia ter feito um plano diferente na gravação... Ou seja, eu sou um inseguro incorrigível, ao contrário de um monte de publicitário que conheço. Mas é super normal publicitário ter ego inflado. Essa profissão da gente é muito valorizada. A galera de criação, então, essa se acha mesmo. E aqui vai uma confissão: há momentos em que eu me acho também. Tem hora que eu encarno o espírito.


Uma das vezes em que me achei foi quando a gente fez a ação para a gravação do institucional de fim do ano de 2010 da Globo Nordeste. Uma ação de marketing, na praça de alimentação do Shopping Recife, com cara de flash mob. Eu estava me achando porque a gente conseguiu montar uma superestrutura com 17 câmeras, som ao vivo, cantores, coreografia, uma confusão de mega produção. O sonho de todo diretor. Diretor adora trabalhar com superestrutura. Aquela coisa de "luz, câmera, ação!" bem Hollywood. Mas, pra usar uma expressão bem pernambucana, eu estava "torando o maior aço". Eu tinha assistido a várias ações assim lá no youtube, mas nenhuma envolvia dança e música ao vivo ao mesmo tempo. Não sabia como o público ia reagir, não sabia se o som ia entrar na hora certa, se os cantores iam entrar na hora certa, se as câmeras iam funcionar na hora certa. Apesar de gravado, era uma coisa ao vivo, por mais paradoxal que isso possa parecer. E eu não tenho estômago pra fazer coisa ao vivo. Ao longo de toda minha vida, trabalhei produzindo comerciais. Ou seja, você leva duas horas e meia pra fazer um take e refaz o mesmo take um monte de outras vezes. E, quando o diretor é inseguro... Vixe! Pois é... No flash mob, eu não poderia fazer isso. Eu estava em pânico. E olha que eu tinha, na parte técnica, os melhores profissionais da Globo, comandados por Arísio Coutinho, a galera do Estúdio Fábrica com uma tecnologia de som fantástica, Mariângela Valença cuidando da coreografia, a minha equipe, extremamente competente, inteirinha do meu lado e, mesmo assim, eu continuava "torando aço". Eu sentia o espírito de Celso Coli, diretor regional da Globo, que estava fora do país, com a foice e o manto da morte sobre minha cabeça, caso aquele troço desse errado. Hahuhauhauh. Estou sendo injusto com Celso. Afinal, ele sempre me apoia nessas ações.

Marquei a hora de iniciarmos: 11h30 em ponto. Eu daria o sinal por rádio e celular. Pois não é que o meu relógio quebrou às 11h25. Às 11h30, todo mundo olhando pra mim e eu olhando para o relógio que não chegava às 11h30. E a galera esperando, até que alguém chegou pra mim e disse: Ivanildo, são 11h33, o que você está esperando? Mandei o relógio pro inferno. Aí começou uma tentativa desesperada para mandar o pessoal rodar o playback do áudio. O rádio deu pane, o celular chiava. Ahrhhharrrrrr!!!!!! Mas, finalmente, começou. Surpreendemos todo mundo. As três apresentações foram um sucesso, deu tudo certo, nada falhou. No youtube, recebemos centenas de comentários positivos, alguns emocionados mesmo, especialmente de pernambucanos que estavam fora do país há muito tempo. Outros, naturalmente, meteram o pau. Mas teve um comentário em especial, metendo o pau, que eu adorei, porque, ao ler, eu pude viajar na história da figura que escreveu. Ela conseguiu me transportar para a realidade dela de uma forma que eu me senti presente em cada canto que ela descreveu. A autoria é de uma mulher, como você poderá sentir ao longo do texto. E, sinceramente, acho que ela é redatora publicitária, e das boas. O texto foi, mais ou menos, assim:

"Você leva meia hora pra estacionar seu carro nesse shopping do inferno. Sai de loja em loja pra comprar presente até pra sogra. Volta pelos corredores, cheia de sacola, esbarrando no povo, com um menino chato a lhe aperriar, gritando que quer porque quer um diacho de um McFlurry. Você vai, senta no estabelecimento do palhaço, enche a boca do menino de sorvete e, quando acha que vai ter cinco minutos de sossego, vem este monte de gente cantando musiquinha da Globo. E de sombrinha! É aí que você torce mesmo pela Record..." Exagerada, a moça! Não precisava terminar assim numa situação de desespero.

Meteu o pau no meu trabalho, mas com criatividade maior do que muito publicitário por aí. 

Oxe, Ivanildo, e tu não disse que tu não fala mal dos teus colegas? Sei não, viu!

Se você não assistiu ao vídeo ou quiser revê-lo, acesse o link abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=ZQOU8JSHMBw