segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Com o pé na estrada

É sempre bom viajar pra longe. O problema é enfrentar as inúmeras horas de avião em que, depois de passados os primeiros minutos de euforia, a gente não encontra mais posição. Vira para um lado, vira para o outro e nada. Aqui, naturalmente, eu estou falando para aqueles mortais comuns que, como eu, viajam na classe econômica. Então, se você costuma viajar de classe executiva ou primeira classe, pode parar de ler este texto agora. Você não vai se identificar. E por não se identificar, não vai ver a menor graça. Mas não fique chateado porque, pra ser muito sincero, eu preferiria não achar graça no meu próprio texto, trocar de lugar com você e aproveitar as maravilhas da primeira classe.

Viajar para longe tem um processo inicial chato demais. Tem que chegar com horas de antecedência no aeroporto, tem que passar na inspeção minuciosa da segurança, tem que fazer o controle de passaporte, tem que enfrentar uma fila imensa no controle de passaporte e imigração, na chegada ao destino. Depois de passar por tudo isso, você se mistura na multidão. Viajar pra longe também dá uma nova perspectiva sobre o mundo de uma forma geral e, mais especificamente, sobre o nosso mundo, no meu caso, um mundinho pequeno que envolve não mais que oito quarteirões. Essa é a minha vida comum. Morando em Boa Viagem, eu costumo dizer que atravessar a ponte do Pina, para mim, já é uma viagem transcontinental. Na maior parte do tempo eu sou mesmo bem limitadinho.

Dessa vez, resolvi voltar aos Estados Unidos. Fazia um bocado de tempo que eu não vinha por aqui. Depois de muitas e muitas vindas, tinha tirado o país do Tio Sam dos meus roteiros. Achei que tinha que partir para uma coisa mais cultural e passei a preferir o velho continente. Besteira. Turista é tudo igual, não tem isso de mais ou menos cultural. É claro que sempre vão ter aqueles que dizem que adoram ir aos museus, passar uma tarde inteira numa biblioteca pública, lendo Goethe ou Shakespeare no original. Mentiraaaa! Turista, verdadeiramente turista, gosta mesmo é de farra, de passear, de comprar, de levar pequenas vantagens. Eu reconheço, no entanto, que uma das minhas maiores emoções foi estar na galeria de Pollock, no MoMA, mas depois disso, passou. Tornei-me um turista absolutamente normal. Algumas pequenas diferenças podem ser encontradas em mim, é verdade. Mas apenas nos últimos anos. Dessa vez, por exemplo, quis sair numa road trip. O meu voo direto me trouxe a Orlando. Ainda bem que tem esse voo, porque aquele negócio de sair de Recife, descer pra São Paulo e depois subir o que desceu, mais o tanto que tem pra chegar nos Estados Unidos...PelamordeDeus, é difícil de aguentar, especialmente com a intolerância que vem com a idade. Mas, então, cheguei a Orlando, separei três dias pra ficar aqui e poder descansar das oito horas de voo. Não fui a um parque, a um único parque eu não fui. Amanhã de manhã, pego a estrada subindo pro norte. Vou bater lá em Ohio que é onde fiz intercâmbio há milhares de anos.


O legal de botar o pé na estrada (colocar as rodas, né?) é que você pode sair dos caminhos convencionais, das highways todas iguais, e se deparar com imagens legais como a da foto. À medida que eu for subindo, vou contanto aqui pra vocês e mostrando a mudança de paisagem.