quarta-feira, 20 de abril de 2011

Adolescente Chato é Pleonasmo

Adolescente é, por natureza, um bicho muito chato. Uns mais, outros menos, mas todos muito chatos. Eu fui um adolescente
muito acima da média. Não acima da média de inteligência. Acima da média de chatice mesmo. Eu fui muito chato e, convenhamos, ainda existe resíduo daquela adolescência em mim. Mesmo meu pai, que era apaixonado pelo único varão da sua prole, chegou a confessar a um amigo sem perceber que eu estava ouvindo:

- Rapaz, eu amo meu filho. Mas o menino é chato. É muito chato. Nunca pensei que eu pudesse ter um filho tão chato assim.

Acho que aquilo me traumatizou e, por pirraça de adolescente, acho que me tornei mais chato ainda. Alem de chato, eu era arrogante. Ainda tem gente que continua me achando chato e arrogante, por mais que eu tente polir a minha imagem. E foi com a chatice e a arrogância da adolescência que, numa segunda-feira, sentei à mesa para tomar café da manhã e minha mãe colocou para mim um prato com um ovo frito. Um único ovo frito. A minha arrogância,  tendo ficado uma noite inteira de sono sem se expressar, irrompeu de forma alucinada:

- Um ovo? É isso que a senhora vai me servir? Um único ovo? Isso mal dá para eu iniciar o meu café da manhã. Onde a senhora está com a cabeça?

Pra começar, é muita ousadia falar assim com a própria mãe. Não se fala assim com a mãe. Ousadia maior ainda era falar assim com a MINHA mãe. Mulher de preceitos morais extremamente rígidos, eu é que não sabia bem onde estava com a cabeça quando proferi aquele texto infeliz. E ainda mais achando que o conceito de Física não se revelaria inteiramente para mim:

Cada ação corresponde a uma reação de mesma intensidade, mesma força, mesma direção e sentido contrário. (Olha aí eu usando as coisas que aprendi no Ensino Médio). Putz, SENTIDO CONTRÁRIO! Foi então que ouvi a voz dela na cozinha, num tom que eu sabia ser de irritação:

- Como é a história, menino? Você está reclamando da vida, mesmo sendo um privilegiado? Mesmo sabendo que existe gente que ficaria feliz de ter a metade de um ovo para comer? Pois, agora, seu danado, você vai comer ovo!

E a minha arrogância falou de novo, mais alto. Devo dizer, sinceramente, que falou contra a minha vontade. Mas a arrogância no adolescente é mais forte do que ele. Tem vontade própria e fala por si só:

- Que bom, pode começar a fazer! E servir! (Não fui eu quem falou isso. Foi a arrogância do meu ser adolescente).

Eu sempre adorei ovos. Fritos, mexidos, cozidos, mal passados, bem passados, de galinha de granja, galinha capoeira, caipira, o escambal. Por outro lado, minha mãe sempre foi uma mulher muito determinada no que ela achava que deveria ser a forma correta de educar os filhos. A rédea era curta, curtíssima. Mas adolescente não se intimida com rédea curta. Não se intimida com nada. Pra segurar adolescente, os pais precisam ter muita... Sei lá, acho que precisam ter é sorte mesmo! Muita!

E minha mãe se danou a fritar ovo pra mim. Os primeiros quatro ovos, eu saboreei com prazer. E aproveitei para soltar uma gracinha:

- Já tem outro pronto?

Isso é o que se chama de “cutucar a fera com vara curta”. Minha irmã mais velha, que também estava sentada à mesa, me olhou com repreensão, como se me perguntasse se eu havia enlouquecido. O sangue de minha mãe, nesse momento, deve ter fervido. Ela sequer respondeu. Começou a me servir os ovos cada vez mais mal passados. Ali, pelo décimo ovo, a garganta começou a travar. E como eram férias, desesperado, pensei:

- Cadê meu pai para me salvar?

Pois é... Meu pai já havia saído para o trabalho. Eram férias escolares. Eu estava ferrado. Entregue à própria sorte e arrogância. Décimo-segundo ovo...Agora eu já não os mastigava. Procurava engolir como pílula para não sentir o gosto. Eles vinham da cozinha quase crus de tão mal passados que estavam. Décimo-terceiro, décimo-quarto...Comecei a engulhar. Já estava quase me preparando para sucumbir e pedir desculpas. Décimo-quinto, décimo-sexto...Não aguentava mais ver aquela forma redonda, branca e amarela, à minha frente. Décimo-sétimo...Estava tonto. Tinha a certeza de que jamais voltaria a ingerir um único ovo em minha vida, mas adolescente arrogante - e imbecil – fazia todo o esforço do mundo para levar adiante o meu intento de vencer a batalha contra minha mãe. Afinal, alguma hora os ovos acabariam. Para sorte minha, no entanto, ela estava se preparando para quebrar o décimo-oitavo ovo quando minha irmã mais velha levantou-se da mesa e, em prantos, implorou para ela parar:

- Pare, minha mãe! A senhora vai matar este menino e vai sofrer. Ele não merece que a senhora sofra. Pare, por favor!

Eu, tenso na mesa, torcendo para ela dar ouvidos à minha irmã. Ficava pensando comigo:

- Puta que o pariu, puta que o pariu três vezes! Puta que o pariu, como eu fui imbecil.

As duas se abraçaram e eu, sem merecer, reconheço hoje, fui salvo na hora "j" por minha irmã. Dezessete ovos. Por incrível que pareça, continuo adorando ovos. E agradecendo todos os dias por meus filhos não serem nadinha parecidos comigo. Nem arrogantes, nem imbecis. Mas adolescentes, todos eles foram chatos.

Se você tiver uma história de chatice de adolescente, divida comigo nos comentários do blog.

Boa Páscoa a todos. Que Juan Della Costa volte de Madri e encontre o Recife ainda em terra firme, antes de submergir.

10 comentários:

  1. Reqlmente essa foi dura de engolir...
    Não os oves, mas a malcriação.
    Se fosse minha mãe jogava a frigideira na minha cara!!! Ela aplica outras leis da física.
    Tambem tive meus casos de "insanidade juvenil"- adolescência. E minha mãe pobre coitada sofreu mais que qualquer um. Eu queria mandar em tudo do que se comprava no supermercado ao que se fazia no fim de semana.
    Depois de 30 anos eu vim intender o que é adolescência lendo o livro "quem ama educa" de Açami Tiba http://www.tiba.com.br/livros/, muito bom!!!
    P.S. Que bom saber que vc sobreviveu àqueles anos, right!

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  2. Sobrevivi pir pouco, Ivo. Por muito pouco. hahahahaa.

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  3. Meu caso de adolescente chato e burro que sempre quer estar certo foi assim:

    Estava eu em uma das minhas edições para Mercado com Paulo de Tarso e o meu treini(na época) Rafinha hoje editor da agência, terminando um filme do PAN para Globo, virado a duas noites, sem tomar café, morto de cansaço, quando liga Ivanildo(é você mesmo tio) dizendo que Carol iria lá às 13h fazer um pequeno ajuste num outro filme.

    Quando já era 14h, O diretor me chama pra almoçar, e com a fome que eu estava a última coisa que eu pensei foi em Carol e simplesmente esqueci, sai pra comer e pra piorar levai o treini comigo.

    Lá estava eu saboreando meu almoço quando derrepente toca o telefone, eu vejo o nome Ivanildo, lembrei de Carol, do filme, do compromisso e atendi todo errado

    "Oi tio" e ele fala "Rapaz, aonde você está? Me diga que eu quero ir aí falar com vc".

    Ele estava num distancia como do Derby para o Shopping Recife e ele foi lá só pra me dar um esporro.

    Acho todos concordamos que Ivanildo é uma pessoa doce, eu tenho ele como o meu pai e digo isso a ele sempre que tenho oportunidade. Mas alguém já teve o desprazer de levar um esporro dele? É, eu tive(vários).Adolescente e teimoso, quando ele chegou fui logo com um sorriso no rosto encontrar com ele, Ivanildo me deu um esporro daqueles que só ele sabe dar e pra piorar eu ficava justificando e isso ia deixando ele irritado cada vez mais, eu olhava pra ele no fundo dos olhos pensando "Eu tenho razão e ninguém vai tira-la" quando fui me justificar mais uma vez ele deu um sonoro,

    "CALE A BOCA JULINHO, VOCÊ ESTÁ ERRADO PORRAAAAAAAA"

    Pronto minha ficha caiu, eu realmente estava errado, ele foi embora "P" da vida comigo e eu me sentindo o pior cara do mundo e pra piorar recebo uma ligação de Marcinho dizendo que titio, a pessoa que eu realmente amo como um pai, foi pra um hospital por causa da discussão, por causa de mim.

    Pronto!

    Morreu uma adolescente que só queria estar certo(pelo menos com ele).
    Te agradeço por cada esporro e pela lição.

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  4. kkkkkk Julinho, lembrei, lembrei! Quem imaginava que tu algum dia daria certo na vida? E deu certo. Tenho muito orgulho de você, Julinho. Parabéns pelas suas conquistas.

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  5. Titio, tu é chato pra caramba visse? Enjoado, cheio de frescuras, mas é uma ser humano tão bom, tão correto, tão generoso e tão amigo que a gente nem liga pra tua chatice viu? A gente até acha engraçado né? kkkkkkkkkkk
    Qdo comecei a ler lembrei da saga dos ovos que vc nos contou ha séculos. Eu tenho uma parecida, só que com bananas. Por causa de uma reclamação que tinha pouca banana em casa, fui obrigada a comer uma palma inteira. isso mesmo, mais de 12 bananas. E continuo adorando banana. Pode? E também, pelo mesmo motivo, tive que comer uma lata inteira de recheio de torta de limão. Mas ta continuo adorando torta de limão. Viva as nossas bravas mães que conseguiram dar um jeito em nossa gula heim? Beijo enorme pra tu.

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  6. kkkkk, obrigado, Rejane. Obrigado, principalmente, por aguentar a minha chatice.

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  7. Primo querido, você não sabe como me identifiquei com seu texto hoje, não no papel de adolescente chato, mas no papel da mãe de adolescente chato (vamos deixar sem o chato porque, como você disse, tá implícito).
    Tenho um chatonildo desses que vivo dizendo pra ele: "cara, quando Deus perguntou quem queria ser chato, você pegou todas as senhas da fila". Como eles são uns PORRES!!! Mas, basta um beijinho e um abraço depois da chatice, que mãe nenhuma consegue segurar a raiva, não é verdade ? rsrsrs
    Mas que eles deixam a gente louca, deixam sim. Bjs.

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  8. Eggs, ovo, ovos, bife dos zoião, zoião, disco voador... tudo isso é OVOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO.
    kkkkkkkkkkkkkk vlw tio.

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