quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Os Ídolos

Dediquei 10 anos de minha vida ao ensino. Muitas das minhas alunas e alunos têm contato comigo através das redes sociais. Ao longo de minha vida lecionando, tentei imitar os meus melhores Professores, mas de todos os grandes Mestres de minha vida, duas Professoras tornaram-se ídolos para mim. Uma delas é Fernanda Bérgamo. Eu a idolatro tanto que nem consigo dormir se não sentir a presença dela ao meu lado. Escolhi Fernanda para ser a minha companheira de vida. Se, no entanto, eu tirasse todo o sentimento que tenho por ela, eu ainda veria Fernanda como ídolo profissional. Já assisti a inúmeras de suas aulas e sempre me encanto com a capacidade de motivar os alunos e de simplificar temas árduos para a nossa compreensão. Quer um exemplo? Você sempre esquece a grafia correta de em cima e embaixo? Ela manda você fazer o numeral 2 nos dedos ou, para quem preferir, o “V”de vitória ou, ainda, o gesto que simboliza paz e amor. Pronto. Embaixo, onde os dedos se unem, é junto. Em cima, onde os dedos se afastam, é separado. Simples, não é? E fica ainda mais fácil vendo no vídeo que ela compartilhou nas redes. Pronto, Fernanda Bérgamo é assim, paralelamente à capacidade de transformar a aula numa aventura de conhecimento, transforma mistérios complexos em soluções tão simples.

Semana passada escrevi uma crônica a partir do encontro de amigos de adolescência. E aí, estava deitado, brincando com o nosso cachorro e ela me diz: “Irandé acaba de fazer um elogio ao seu texto.” Aí, eu me abestalhei. Irandé Antunes é o meu outro ídolo. Fui aluno de Irandé na Faculdade de Letras, ali pelos meus 25, 26 anos. Nos dias modorrentos, a aula de Irandé era a redenção. Se eu tenho de defini-la para você compreender, eu digo que ela é uma Encantadora de Gente. Porque Irandé não precisa de mais que 30 segundos para hipnotizar uma plateia. Ela começa a falar, sem levantar o tom de voz, e a plateia para o que está fazendo e tem o olhar impelido a encontrar os olhos de Irandé. Não importa onde você esteja sentado, a sensação é a de que ela está falando exclusivamente pra você. E aí você entra num estado de delírio em que as imagens alucinógenas saem da boca de Irandé e começam a construir um cenário no qual você se vê envolvido. Você passa a se ver onde ela quis que você estivesse para vivenciar as palavras dela. Você é circundado por imagens holográficas como numa experiência futurística em que palavras se transformam em imagens que se movimentam à sua volta, imagens que lhe envolvem e você fica naquele estado de deslumbramento. Ah, em tempo, Irandé não precisa de Datashow pra criar esse cenário. O cenário sai diretamente da boca dela para preencher a realidade alternativa de quem a está ouvindo.

Pois, alguns anos atrás, fui convidado pela Coordenação do Curso de Letras da Fafire para dar uma palestra, num evento em comemoração a alguma coisa que já não me lembro. Não importa, sou assim mesmo. Preciso da assistência permanente dos meus amigos para lembrar momentos que vivenciei num passado remoto ou recente. Mas dos fatos, ficam detalhes que não me saem mais da lembrança. É como no poema de Drummond, “de tudo fica um pouco” – Resíduo. Liliane, a coordenadora do Curso de Letras, veio me mostrar o programa antecipadamente e, no impresso, vi um erro terrível: estava lá que a minha palestra seria após a de Irandé. Ali estava o erro. Depois que Irandé fala, ninguém tem mais nada a dizer, nada mais a acrescentar. O que, então, eu ia fazer lá naquele auditório? Disse a Liliane que não haveria possibilidade de eu entrar após a Encantadora de Gente. Liliane ouviu e, conhecendo a capacidade da colega de profissão, entendeu e concordou.  Liliane sabia exatamente do que eu estava falando e fez a mudança no programa. No dia do evento, eu estava lá, cheio de aparatos tecnológicos, telas no Datashow, filmes e não sei mais o quê. Dei minha palestra e, quando terminei, Irandé foi chamada. Ela disse que havia ficado encantada com todas aquelas coisas que eu mostrei e, humildemente, quase se desculpando, alertou a plateia de que ela não tinha levado nada. Nenhuma telazinha. Que ela “só” ia falar. Como se precisasse ela levar alguma coisa. Com menos de 30 segundos de sua fala, tive a curiosidade de olhar para a plateia. Todos já estavam com aquela boca a meia abertura, olhos vidrados, completamente entregues à maravilha da fala da Professora Irandé Antunes, a Encantadora de Gente.


A propósito, se vocês gostam um pouco do que eu escrevo, a gente deve isso a Irandé, que foi minha Professora de Técnica de Redação I e II.

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